Notas da entrevista concedida à TV Cidade/Record
@ Tiago Matos · Saturday, Dec 12, 2020 · 3 minute read · Update at Dec 12, 2020

Como prometido, estou publicando as notas que escrevi para basear minhas falas. Essa entrevista foi transmitida na TV Cidade/Record de 1 a 2 de dezembro de 2020. Para quem ainda não viu, está aqui.

1. Como o sr. analisa a importância do auxílio emergencial para os Maranhenses?

O auxílio emergencial cumpre um papel importante: mantém o nível de renda e consequentemente garante uma estabilidade no nível de consumo das famílias. No Maranhão, o auxílio apresentou um efeito booster. Uma característica que contribuiu para isso é a baixa taxa de formalização (28%). Nesse cenário, o número de beneficiários se expande atingindo indivíduos que possuíam renda inferior a R$ 600,00.

Nacionalmente, segundo o IPEA o percentual de domicílios sem renda passa de 8,4% para 1,8%1. Nunca se fez uma política de combate à pobreza tão efetiva num período tão curto de tempo. Se estivéssemos num cenário mais propício ao consumo, o efeito multiplicador faria o restante do trabalho.

2. Quais os cenários socioeconômicos que o fim do auxílio emergencial pode provocar?

O fim do auxílio só deve ser pensado se acompanhado de uma retomada robusta nas contratações no setor formal da economia. Os números do CAGED já revelam que essa retomada gradual dos empregos formais e por consequência do nível da atividade econômica. Dessa forma, os efeitos escorrem para o setor informal. O cenário que penso para os próximos meses considera o esforço dos trabalhadores e empresas em assimilar o “novo normal”.

Caso a economia não apresente uma retomada consistente, poderemos estar entrando em um ciclo de subconsumo e empobrecimento. A ideia é a seguinte: i) com o fim do AE, o consumo se reduz; ii) as empresas são afetadas e reduzem suas decisões de produção e investimento, nessa fase ocorrem mais desligamentos e; iii) o aumento do desemprego e a queda na renda realimenta o ciclo de consumo “capenga”. O programa Celso Furtado atuaria como uma medida contracíclica. Fomentando o nível de emprego via compras governamentais nos setores de infraestrutura. A construção civil é um excelente “termômetro” de empregos no Maranhão.

3. A economia pode sofrer outro golpe?

A economia já mostra resiliência frente ao choque da pandemia. O golpe maior se traduz na perda de milhares de vidas e sonhos, não somos de capazes de mensurar isso em termos econômicos.

Ademais, temos duas emergências que trazem preocupação:

  • a emergência fiscal, ficamos em terceiro lugar no ranking dos países mais atingidos pela pandemia e com as contas públicas muito deterioradas. Isso gera uma incerteza nos agentes que interfere nas decisões de investimentos. Ou seja, o futuro da economia brasileira fica condicionado às expectativas dos indivíduos.

  • pressão inflacionária, entrando como um choque de oferta, vimos isso na “corrida ao arroz”. Os indivíduos interpretaram a elevação do preço do arroz causada pela queda na produção de gêneros alimentícios, como um estímulo à estocagem, é claro que isso agravou ainda mais o problema.

4. O que as pessoas podem fazer diante desse problema?

  • se você já empreende: busque o novo padrão de atendimento, zelando pela saúde e bem-estar dos clientes e colaboradores. Numa outra instância, a transformação digital é de suma importância, como foi visto durante o auge da pandemia, uma estratégia adotada para enfrentar a crise foi o teletrabalho (home-office), o comércio digital e o delivery.

  • para o trabalhadores, o mais importante é pensar numa estratégia de recolocação no mercado de trabalho, considerando uma adequação quanto às novas demandas das empresas (menos interpessoal). O empreededorismo também é uma saída interessante, tendo em vista novas oportunidades de negócio que estão surgindo e que podem surgir.

Devemos lembrar que o auxílio emergencial, até o momento, não apresenta garantias de ser permanente.


  1. IPEA, Os efeitos da pandemia sobre os rendimentos do trabalho e o impacto do auxílio emergencial: os resultados dos microdados da PNAD Covid-19 de junho↩︎